sexta-feira, 15 de maio de 2009

Refém de Rebelião - parte II

Naquele momento em que fomos chamados prá entrar, os quase três dias em frente à penitenciária, as noites praticamente em claro, a falta de um bom banho, os lanches devorados rapidamente e todo o stress da cobertura começaram a valer a pena. Tínhamos uma oportunidade única. Acompanhar o final de uma rebelião de grandes proporções. Assim que as duas equipes de TV autorizadas pelo diretor passaram pelo portão, fomos cercados por agentes de segurança, que falavam conosco nervosamente. "Não saiam de perto de nós e não olhem diretamente nos olhos dos bandidos" - foram as recomendações mais repetidas. Nesse momento já entrávamos no páteo, onde pudemos confirmar da pior maneira a informação das mortes. Três corpos perfurados por estiletes feitos com barras de ferro estavam amontoados numa poça de sangue. Ao redor deles, vários detentos com o rosto coberto por camisetas, improvisando máscaras que deixavam apenas os olhos do lado de fora.

Os líderes da rebelião estavam todos juntos. Não sei explicar direito como ou quando aconteceu. Foi tudo muito rápido e a adrenalina me impediu de registrar a cena com exatidão. Todos gritavam. Agentes e detentos discutiam, sem que eu conseguisse entender direito o que era. Ouvi alguém dizer "sujou","caiu" ou alguma coisa assim. Quando olhei para o lado já estávamos cercados pelos rebelados. Estávamos reféns.

Eu, sinceramente, achei que ia morrer ali. Pensei na minha mulher. Estava casado há dois anos, sem filhos ainda. Não era capaz de entender mais nada do que se falava ao meu lado. O diretor discutia nossa libertação com o líder do movimento, dizendo que manter a imprensa como refém só iria piorar a situação deles. Foram vários minutos de tensão. Não sei dizer ao certo quanto tempo isso levou. Pareceu uma eternidade. Finalmente chegaram a um acordo e nós fomos liberados. Os agentes nos puxaram e saíram conosco num passo rápido, quase correndo. Nos deixaram numa ante-sala com portas de ferro e pediram que esperássemos o diretor.

Olhamos uns para os outros com uma óbvia sensação de alívio. Mas, quem disse que a história acabou aí?

Um comentário:

  1. Ai ai ai.... eu conheço a história..... mas, vem cá: este suspense vai render mais quantos posts, hein??? rsrsrsrs!!!
    Parabéns pelo novo projeto.
    Beijos
    Kátia Gradela

    ResponderExcluir