quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Fundo do fosso

Eu já disse aqui que minha passagem como radialista esportivo rendeu várias histórias. Uma das mais vexatórias, com certeza, aconteceu durante a transmissão de uma partida de futebol numa cidade do interior paulista, onde a equipe deveria acompanhar um jogo da segunda divisão do Campeonato Estadual. O estádio era velho conhecido de todos nós. Construído na década de 70, possuía uma característica comum à algumas praças projetadas na época: tinha um fosso que separava o campo de jogo das arquibancadas. Uma medida de segurança para evitar invasões da torcida, que com o tempo havia sido extinguida na maioria dos estádios. Naquele, não. Tudo bem que o fosso não era tão fundo e ficava relativamente afastado das chamadas "quatro linhas". Mas não havia nenhuma grade de segurança entre o fim do gramado e o começo do fosso.

Tudo pronto para a transmissão, desci para o campo e coloquei o equipamento: fone e microfone "canequinha" (tudo com fio, claro). O plantão passa a bola para a abertura da jornada. Roda a pomposa e épica vinheta da "maior e melhor equipe do rádio do interior de São Paulo". O locutor anuncia o "início do espetáculo" e aciona os repórteres em campo para mais um show de informações. Eu e meu companheiro de gramado começamos o trabalho. A retrospectiva dos times, classificação, desfalques e as escalações prováveis das equipes, mantidas em sigilo pelos treinadores. Mais uma tarde de domingo sem grandes novidades prá quem está acostumado à rotina de acompanhar futebol pelo rádio.

O início do jogo se aproxima. Depois das escalações e entrevistas de praxe, os repórteres precisam deixar o gramado para o começo do jogo. Últimas informações antes de rolar a bola e lá estou eu falando sem parar. Sabe-se lá por qual motivo eu falava e andava prá trás, sem olhar. Instintivamente. Foi quando, de repente, senti que faltou chão sob meus pés. E eu desabei com microfone, fone, cabos, anotações e tudo que eu tinha direito. O barulho foi ouvido no ar, já que o microfone estava aberto. O locutor: "O que aconteceu?". E eu, na maior inocência, respondi no ar, como se falasse para um amigo: "Caí no fosso!". Pronto, estava feito o estrago. Sorte que o estádio estava relativamente vazio e a torcida não estava prestando muita atenção no repórter desastrado. O pessoal do banco de reservas mais próximo me ajudou a subir de volta. Não cheguei a me machucar, mas também não consegui terminar a transmissão. A vergonha era tanta que só voltei a um campo de futebol duas semanas depois. E naquele não tinha fosso.