segunda-feira, 11 de maio de 2009

Refém de Rebelião - parte I

Se tem um tipo de cobertura que deixa qualquer jornalista cansado é rebelião em penitenciária. Primeiro porque, prá quem faz TV, as imagens são quase sempre as mesmas: fumaça de colchões queimados saindo de algum pavilhão distante, viaturas de polícia entrando e saindo e a famosa passagem do repórter com o portão de fundo, já que dali ninguém passa. E o pior é que você não pode "arredar o pé" do lugar. Tem que esperar uma equipe render a outra, o que em determinados casos pode levar muitas e muitas horas. O problema mesmo é quando não tem outra equipe. E era exatamente essa a realidade da emissora que eu bravamente representava na região oeste de São Paulo em 1995.

Sabendo de tudo isso, fui incumbido de ir para uma penitenciária estadual, onde os detentos haviam iniciado uma rebelião durante a noite anterior. As primeiras notícias davam conta de dois mortos. Eu teria que fechar reportagens para o jornal local e os dois nacionais. Pouco mais de uma hora e meia de estrada e lá estávamos nós. Rapidamente fechamos a primeira matéria. O motorista voltou para a emissora com a fita, enquanto eu e o cinegrafista montávamos plantão.
Passamos o resto da tarde sem informações ou imagens que valessem a pena. Liguei para a chefia e veio a ordem: não saia daí. O motorista chegou de volta e nós passamos a primeira noite revezando o banco da velha Belina da emissora. Cada um dormia um pouco, aguardando o desfecho da rebelião ou alguma imagem que valesse a pena (claro que nada aconteceu).

Segundo dia. As emissoras mais estruturadas revezavam suas equipes e a gente continuava lá. O motorista me levou num posto de gasolina ali perto. Fiz a barba, troquei a camisa e o paletó (repórter prevenido vale por dois). Íamos assistindo a cobertura num trailler de lanches que ficava em frente a penitenciária e tinha uma pequena TV. Quando o apresentador em São Paulo chamava as reportagens, vibrávamos. Era o melhor pagamento que poderíamos receber naquele momento. O problema todo é que a tal rebelião não acabava. Já eram três mortos e a negociação não avançava. No início da noite, liguei prá chefia por desencargo de consciência, mas já sabia a resposta... pois é... mais uma noite na Belina e nada de equipe prá render a turma que já estava prá lá de esgotada. O motorista ainda havia sido trocado numa das idas e vindas com as fitas de material a ser editado. Mas eu e o cinegrafista continuávamos lá.
O terceiro dia amanheceu com boas perspectivas. Os detentos davam sinais de cansaço e a rebelião poderia terminar a qualquer momento. Pelo menos essas eram as informações que vinham de dentro dos pavilhões. O juiz corregedor estava lá, junto com todas as autoridades possíveis e imagináveis. Fechei o material pro jornal do almoço (que era em Rede). Pouco depois um agente chega esbaforido do lado de fora. O diretor estava chamando duas equipes de TV prá entrar. Nossa missão seria acompanhar o final das negociações. A rendição dependia da entrada da imprensa.
Eu sabia que aquilo era uma loucura. Nem liguei prá chefia de reportagem. Me ofereci primeiro. Logo atrás veio a equipe da maior emissora que participava da cobertura (revezando, é claro)... Fomos autorizados a entrar na penitenciária. "Não perca nada" - eu disse. Nem precisava. O cinegrafista já tinha desligado o tally da câmera e entrou gravando. O que ninguém imaginava era o que nos esperava ali dentro. Eu conto no próximo post...

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