quinta-feira, 21 de maio de 2009

Refém de Rebelião - final

Aquela tarde tinha sido insana. Depois de três dias de muito trabalho e pressão, havíamos experimentado emoções intensas. Afinal, ficar refém de uma rebelião era a última coisa que eu poderia imaginar que fosse acontecer naquela empreitada. Momentos depois de sermos colocados na tal ante-sala pelos agentes, a adrenalina começou a voltar ao normal e só então eu me dei conta da maluquice que havia feito e do perigo que havia corrido. Foi quando entrou o diretor da penitenciária, muito nervoso. "Vocês estão bem?"- ele perguntou. Os quatro responderam que sim. "Quero as fitas gravadas" - continuou.
Ninguém entendeu nada. Era óbvio que o material era nosso. Eu e o repórter da outra emissora nos olhamos como que fazendo um trato. As respostas foram absolutamente iguais."De jeito nenhum". Com a nossa recusa imediata, veio a represália. O diretor anunciou que não sairíamos de lá enquanto não entregássemos as fitas. Estávamos sendo detidos sem acusação. Nosso crime era ter gravado uma negociação frustrada com os presos. Eu entendi imediatamente o que acontecia ali. Se as imagens fossem divulgadas pelas TVs o diretor seria exonerado imediatamente. Afinal, havia colocado quatro jornalistas em risco de morte. A conversa começou a ficar acalorada.
"A fita não sai da câmera. O material pertence à emissora e o que o senhor está fazendo é crime. Abra essa porta agora." O tom da minha voz foi aumentando. O outro repórter também se exaltou. A discussão começou a ficar grave. Naquela altura eu já me sentia descompensado. Estava cansado por conta da cobertura exaustiva e as noites mal dormidas na Belina, anestesiado por causa do medo durante o tempo junto aos rebelados e naquele momento revoltado com a situação absurda que enfrentava ali. Parti prá ameaça. Disse que denunciaria a prisão irregular de profissionais da imprensa. Fui apoiado pelo colega que sacou um daqueles celulares pré-históricos do bolso. Acho que nem sinal tinha, mas ele ameaçou ligar prá emissora e abrir um plantão. O diretor se calou e propôs um acordo. Se nós nos comprometêssemos em não divulgar as imagens, seríamos liberados. "Se a emissora concorrente não der as imagens no jornal, a gente também não dá". O trato foi feito. E quem diria, o diretor acreditou e fomos liberados.
Foi o tempo de sairmos pelo portão. Nunca fechei um texto tão rapidamente. O motorista saiu minutos depois da nossa libertação. O da concorrência foi logo em seguida. Naquela noite, nossas reportagens abriram os principais jornais de rede do Brasil. Pouco depois, aconteceu o óbvio: o diretor foi exonerado e a rebelião chegou ao fim. Era o que os detentos realmente queriam. Voltei prá casa depois de fechar o último texto com a sensação de dever cumprido. E uma história que jamais poderia esquecer.

Um comentário:

  1. Hhahahahhaa Me rachei de rir com o "celular pré-histórico". Espertinhos vocês, hein?haushausua- emuito chiques tbm. Principais jornais de rede do Brasil??Ui, que pode é outra coisa hehehe.

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