quarta-feira, 7 de abril de 2010

Microfone sem Fio

Depois de toda a tensão do último caso, resolvi contar mais uma história mais leve, dos meus tempos de jornalista esportivo. Aliás, agradeço todos os dias o chefe que me colocou prá fazer transmissão de futebol naquela rádio AM. Uma escola e tanto. Bom, como já disse aqui outras vezes, no início dos anos 90 ser repórter de campo exigia paciência sem fim e muita habilidade prá lidar com metros e metros de cabos de microfone e retorno. Naquela tarde de domingo eu estava na transmissão de uma partida importante da série A do Campeonato Paulista. Corínthians em campo com time completo, contando com várias estrelas do futebol nacional. E aí, é claro, a responsabilidade do repórter cresce. É preciso dar informação com qualidade, chegar primeiro nas entrevistas, ajudar a fazer a diferença na transmissão.

Desde o começo da transmissão eu havia percebido que meu microfone estava com problema. Trabalhávamos, na época, com um modelo apelidado de "canequinha". Um clássico das jornadas esportivas. Tinha uma qualidade e tanto, mas o conector do cabo não era encaixado. Era de rosca. E a rosca do meu estava frouxa. Caía o tempo todo. Durante todo o jogo eu sofri com o tal cabo que se soltava. Conversei com o técnico da rádio, mas não havia a mínima possibilidade de trocar o equipamento. Ele não tinha trazido cabo reserva no carro. Apesar disso, era necessário tocar a transmissão e eu era o repórter que fazia o Timão.

Fim de jogo. O Corínthians vence. Os repórteres invadem literalmente o campo atrás dos seus entrevistados. Um era especial naquele fim de tarde na capital paulista. Havia feito um golaço de falta, era artilheiro da equipe. Foi a minha escolha imediata. Cheguei correndo no camisa 10 e saquei logo a pergunta. Outros repórteres encostaram em seguida com seus microfones. Foi quando percebi que o jogador em questão respondia olhando fixamente para o meu microfone. O cabo havia caído. Eu segurava apenas o microfone, como se fosse um desses sem-fio de hoje em dia. Não deixei que minha expressão de pânico durasse mais que cinco segundos. Pelo retorno confirmei que estava fora do ar, mas mantive a pose de entrevistador sério. Ainda fiz mais uma pergunta e depois me afastei.

Finda a entrevista, quase entrando no vestiário, ele bate nas minhas costas: "Aquele microfone é assim mesmo?" - perguntou. Respondi rápido, antevendo uma evolução tecnológica que chegaria aos estádios anos depois: "É sim. É sem fio".

3 comentários:

  1. Já perdeu a entrevista... pelo ao menos não perdeu a pose...

    Bruno Transportes

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  2. Concordo com Bruno, mas vale falar mais uma vez que toda vez q passo por aqui, consigo imaginar a cena! A de hoje foi muito boa, coisa de repórter esperto!

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  3. Parabéns pela postura profissional de levar adiante a entrevista, mesmo sabendo que tinha problemas. A entrevista foi ao vivo? Seu editor falou o que depois? E se o jogador quisesse clipar a entrevista e soubesse que não tinha ido ao ar o que você faria?

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