terça-feira, 4 de maio de 2010

Porta de Camarim

Tenho que admitir: tive uma fase rebelde na minha vida profissional e isso acabou me trazendo muitas dores de cabeça. Já contei aqui um caso dessa época, quando abandonei um programa de rádio no ar por conta de uma discussão com o diretor. Coisa impensada, parecida com essa história que passo a dividir com vocês. Tudo bem que nessa o final foi bem mais feliz... Naquele mesmo ano eu já estava em outra emissora FM como locutor e repórter. Num fim de semana qualquer, um dos maiores ícones do pop-rock brasileiro (do qual eu era fã, inclusive), ia se apresentar num dos clubes mais tradicionais da cidade. Quando fui escalado para cobrir o show e entrevistar o cantor fiquei muito feliz. Iria conhecer e conversar com um dos meus ídolos de pré-adolescência.

A semana de expectativa passou rápida. No sábado à noite lá estava eu, de crachá no peito, gravador na mão, pronto para a coletiva. O problema é que o tal ídolo não chegava de jeito nenhum. Uma hora, duas, três horas de atraso para o início da entrevista. Um movimento de assessores e seguranças demonstrou que, finalmente, ele estava nas dependências do clube de campo. A entrada do cantor foi meteórica. Passou por nós sem olhar ninguém e se trancou no camarim. O assessor de imprensa que estava com a gente pediu licença e entrou atrás, prometendo uma resposta rápida. E foi mesmo."Ele não quer falar com ninguém"- informou um minuto depois de ter entrado e saído.

Considerei a resposta um desrespeito aos profissionais que estavam há horas esperando uma entrevista. E sem pensar muito em consequências, tratei de deixar muito clara a minha opinião ali mesmo, na porta do camarim do rapaz. Comecei a esbravejar com o assessor, que tentava, sem sucesso, me acalmar. Ele argumentava que o cantor estava cansado, havia chegado do Rio atrasado por conta de vôo, etc. Nada me demovia da porta do camarim, onde eu continuava reclamando.

Minha primeira surpresa foi quando o cantor abriu a porta e colocou o rosto prá fora. "Que gritaria é essa aí?"- perguntou. "Quem é o maluco que está reclamando?". Nem deixei o assessor falar. Em meia dúzia de palavras expressei toda minha indignação com o tratamento que ele havia dispensado à imprensa da cidade, reunida ali por causa dele. "Ah é ? Você acha isso ?" - ele perguntou de novo. "Então entra aqui você que eu vou te dar uma entrevista". O assessor me olhou com cara de quem não estava entendendo nada. Eu também não estava. De qualquer modo, entrei no camarim sozinho e fiz com ele uma exclusiva para a minha rádio. Na saída, o assessor me cutucou: "Eu já ia mandar o segurança retirar você. Deu sorte, chará. ". Nem diga...

3 comentários:

  1. A pergunta que não quer calar... rsrsrs... como já disse uma música... rsrsrs...
    "QUEM É O CANTÔ?"

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  2. E a pergunta quem não quer calar... rsrsrs... como já disse uma música... rsrsrs... "QUEM É O CANTÔ?"

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  3. Sim, concordo com Kátia. Afinal, "QUEM É O CANTÔ?"

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