quarta-feira, 1 de julho de 2009

Chumbo trocado não dói

Durante uma boa parte da minha vida de repórter, atuei na área esportiva, tanto no rádio como na TV. Como muitos, aprendi lições de improviso, bom humor e acumulei histórias. No início dos anos 90, uma cidade do interior paulista possuía uma das equipes de basquete feminino mais importantes do país. Eu trabalhava numa pequena TV educativa da cidade naquela época e, entre outras funções, era o repórter de quadra nas transmissões esportivas. Era noite de clássico. O time enfrentava seu principal rival, que representava a cidade vizinha. Além da imprensa local, estava presente a imprensa nacional. Uma grande rede também fazia a transmissão da partida e dividindo a quadra comigo estava um dos maiores nomes da crônica esportiva do Brasil. O que era uma honra acabou virando richa entre nós.

A história começou no intervalo do jogo. Naquela época o basquete era jogado em dois tempos e não em quatro quartos, como hoje. E naquela época a tecnologia "sem fio" não havia chegado. Os repórteres viviam amarrados em metros e mais metros de cabos de microfone e retorno de áudio que saiam dos caminhões de transmissão. Era necessária toda uma técnica para não virar uma "macarronada" de fios na hora dos jogos. Pois bem, naquele intervalo eu estava mais esperto e quando o juiz anunciou o fim do primeiro tempo, corri para a principal estrela do esporte no país. O "amigo" percebeu que ia ter que dividir a entrevista e, sutilmente, pisou no meu cabo. E lá se foi o digníssimo repórter que hoje escreve esse caso pro chão da quadra diante de uma torcida que lotava o ginásio. Um tombo memorável. Ele passou na volta, pediu desculpas e ainda perguntou se estava tudo bem. "Tudo ótimo. Não foi nada" - respondi. E tracei meus planos para o fim do jogo.

O time da casa vencia com tranquilidade. Nem prestei atenção no que aconteceu nos momentos finais da partida. Fixei o cabo de transmissão do rapaz. Fim de jogo. Quando ele partiu correndo prá dentro da quadra coloquei o pé. O tombo foi no mesmo nível. De cara no chão. Eu ainda passei por ele antes de chegar com o microfone da modesta TV educativa para entrevistar a estrela. Dei um tapinha nas costas do famoso repórter e, exatamante como ele havia feito, perguntei se estava tudo bem. Ele não respondeu.

Nos encontramos depois em outros tantos jogos. Ele nunca falou comigo. Mas também nunca mais pisou no meu cabo... ao contrário, passava longe...

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